Brutalidade Jardim

Blog de literatura, prosas urbanas, poéticas visuais e literatices

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Location: João Monlevade / Brasília, Minas / Distrito Federal, Brazil

Nascido em João Monlevade, no Vale do Aço, Minas Gerais / Brasil. É jornalista. Reside em Brasília/DF desde 2007. Poeta independente abandonou a literatura impressa para mergulhar no abismo virtual. Tem trabalhos literários premiados no Brasil e muitos outros publicados em vários países, especialmente de arte postal. Seguir o meu twitter @ geraldomagela59 Born in João Monlevade, in the Steel Valley, Minas Gerais / Brazil. He is a journalist, living in Brasília / DF since 2007. Independent poet abandoned printed literature to immerse himself in the virtual abyss. It has literary works in Brazil and many others published in several countries, especially in publications of postall art.

Tuesday, December 26, 2006

Sangue frio

Em recente entrevista à revista CAOSTIDIANO nº 2, a escritora Wanda Wasíllis confirmou friamente o suicídio do atormentado Horacius H., personagem inédito da sua última coletânea de contos psicóticos.
Segundo ela, Horacius foi criado para viver pouquíssimo, pois não possuia personalidade forte o bastante para suportar as durezas de uma vida normal.
O entrevistador perguntou a W. Wasíllis se ela não sentiu remorsos por ter atirado o pobre personagem do último andar de um prédio. A escritora deu uma resposta convincente: “Alguns personagens nascem para viver nos esgotos, como o Tom Cat, outros para pular de um prédio!”
Sobre a possibilidade de ela vir a processar o ladrão de personagens, Baltimore Batista, que tentou lhe furtar Helga Coolgate, ela deu outra resposta interessante: “Alguns escritores servem para tentar roubar Helga, outros, como eu, para atirar Horacius do último andar. Tudo é uma questão de índole!”

Thursday, December 21, 2006

Romantismos

Numa das conversas regadas a álcool na Taverna do Corvo Poe, Beraldo Bezerra resolveu falar sobre a paixão mortal de Querêncio Borba, O Escrevinhador Míope, por Eleonora Del Jaspe, moça delgada, branquinha, maluca de pedra e possuidora de um par de olhos traiçoeiros.
Dona de lábios finos e de uma fina ironia, Eleonora deixava os homens enlouquecidos. O escrevinhador foi apenas mais uma das inúmeras vítimas do veneno da serpente Del Jaspe que colecionava zumbis apaixonados.
Tempos mais tarde, Eleonora, A Maluquinha, se casou com um comerciante abastado e mudou-se para o interior. Querêncio parece ter se conformado com a situação após escrever uma série de odes, cantos e poemas que foram parar na lata de lixo, para o bem da humanidade.
Mas o maior arrependimento de Q.Borba, segundo Beraldo Bezerra, era o de nunca ter experimentado tocar naqueles seios branquinhos, levemente sardentos, que davam um toque de mistério ao corpo delgado de Del Jaspe.
Após ouvir a estória, Tom Cat disse uma frase célebre:
- O romantismo não vale mesmo a pena!

Wednesday, December 20, 2006

O roubo

“ Numa tediosa tarde de domingo, na falta do que fazer, resolvi roubar aquele protótipo de personagem feminino chamado Helga Coolgate, a cantora lírica, jazzwoman por acidente, criado pela escritora Wanda Wasíllis.
Helga me pareceu uma presa fácil, mas acho que me enganei. Coloquei a pobre cantora numa mini-novela erótica, daquelas de subir o intelecto de qualquer leitor.
Ela aparecia em duas ou três linhas imitando a Billy Holliday, enquanto duas lésbicas se lambiam... Parei aí mesmo. Decidi tirar a Helga da estória. Mas as tais lésbicas, para o meu castigo, continuavam se lambendo, lá na minha imaginação perversa.
Ao som da Billy, naturalmente.”



( Trecho das confissões de Baltimore Batista perante a Comissão Literária de Inquérito )

Tuesday, December 19, 2006

Vingança

Diz a lenda que antes de morrer, Aldon Almeida, escritor de um livro só, que na verdade eram doze, ou vice-versa, sentado à sombra dos floridos arvoredos da sua aconchegante casa de campo, fez um último pedido ao seu amigo inseparável, Jorge Sande.
Pediu ao amigo que colocasse fogo, ou consumisse de alguma outra forma eficaz, todos os manuscritos e anotações inéditas que se referissem ao seu décimo terceiro ( e único ) livro.
Jorge Sande, uma bicha cultíssima, lembrou-se do episódio em que Franz Kafka, no leito de morte, fez um pedido idêntico ao amigo Max Brod. Este, sabedor do talento genial de F.K. não atendeu ao pedido do amigo moribundo. Seu gesto transformou o escritor tcheco em um dos grandes gênios da literatura mundial.
Sande, ao contrário de Brod, após a morte de Aldon, atendeu de imediato o pedido dramático do amigo e botou fogo em tudo, deixando os editores da rendosa obra de A.Almeida enfurecidos. Na verdade, o gesto de Jorge S. também tinha outro motivo especial: Vingança!
Meses atrás, os mesmos editores haviam recusado a publicação de uma antologia contendo os poemas pornobarrocos de Sande.

Monday, December 18, 2006

Concurso literário

Após o terrível assassinato do ex-contista Antônio Scliar, a Associação Brasileira dos Escritores Desconhecidos - ABED, sob a presidência do míope Querêncio Borba, resolveu instituir o Prêmio Nacional de Literatura Antônio Scliar. O concurso envolveria as categorias de poesia, conto e romance, sendo destinado somente a escritores desconhecidos ou quase conhecidos, sem nenhuma fama ou mal afamados.
O poeta parnaso/simbolista Clementes Mendes presidiria o júri de poesia; o romancista bem conservado Machado Callado fora escolhido para presidir a comissão julgadora dos romances e o contista picareta Baltimore Batista presidiria a comissão encarregada dos contos.
As escolhas dos presidentes provocaram protestos violentos por parte de Mandrake Zake, Sérgio Simulacros e Beraldo Bezerra que se recusaram a participar do evento, taxando-o de “farsa montada para premiar dinossauros fossilizados, representantes de uma literatura pré-histórica”.
Apesar dos protestos e boicotes, o concurso recebeu mais de seis mil inscrições no total, sendo a maioria para a categoria poesia, como já era esperado. Três meses depois, as comissões anunciaram os resultados.
Infelizmente, em obediência ao regulamento do concurso, os nomes dos vencedores não puderam ser divulgados, mantendo assim o critério de anonimato dos escritores.

Thursday, December 14, 2006

Outsiders

Outsiders


Tom Cat costumava freqüentar um bar sombrio, a Taverna do Corvo Poe, também preferido pelos poetas Mandrake Zake e Clementes Mendes, além do escritor/personagem Beraldo Bezerra, de gêneros distintos, mas dotados do mesmo prazer. Ou seja, passar a noite em longas bebedeiras, acompanhadas de conversas bem humoradas.
Tom Cat era um sujeito sem rumo, sem documento, ou quaisquer compromissos burocráticos com o mundo civilizado. Bebia às custas dos literatos que admiravam o seu modus vivendi e se divertiam com as suas odisséias marginais, enquanto tomava conhecimento de coisas inatingíveis para um bandido como ele.
Multimídia, animação gráfica, árias, óperas secas, simbolismo, geração beat, Hamlet e Castro Alves, tudo numa única salada cultural. E tome porre. Após a bebedeira, o quarteto se dissolvia, cada um em busca do seu lugar nenhum.
Pareciam personagens em fuga, dizia sempre o gordo Edgar, dono do bar sombrio.
Talvez ele tivesse razão.

Wednesday, December 13, 2006

Biografia Humana / Coleta Seletiva

Tuesday, December 12, 2006

A pantera

Durante o III Congresso Internacional dos Escritores Desconhecidos, realizado em Nairobi, algo terrível aconteceu.
O ex-contista, agora ensaísta, Antônio Scliar, ficou conhecendo a poeta Botukú Buto, uma negra esguia e sedutora. “Pantera Negra”, apelidou-a de cara o ex-contista, numa alusão óbvia à personagem felina de uma das estórias em quadrinhos do grafiteiro Magrelo Mouse.
Depois de um prolongado debate sobre o sexo na poesia etrusca, Scliar e Buto foram para a cama. Após a noite de amor, os dois não foram mais vistos no Congresso, tendo ambos desaparecido misteriosamente.
Estão trepando há dois dias seguidos,sentenciou o novelista Sérgio Simulacros.
Haja energia, admirou o cronista míope Querêncio Borba.
Estou achando tudo isso muito estranho, desconfiou Mário Maltês, escritor de romances policiais.
Resolveram então investigar, começando pelo quarto de Scliar e, para o horror de todos, descobriram o corpo do ex-contista e agora ensaísta pendurado no armário, já em processo de degeneração. O pescoço dele estava destroçado, como se tivesse sido atacado por algum tipo de felino de grande porte.
“Pantera Negra!” Gritaram todos, ao mesmo tempo.

Monday, December 11, 2006

Salivações

língua
letra
paladar
produto
lânguida
sílaba
em
negrito

lânguida
letra
paladar
produto
língua
sílaba
em
negrito

letra
sílaba
paladar
produto
lânguida
língua
em
negrito.

Erotismo

( ... )

Era virgem ainda. O umbigo, a sua principal zona erógena.
Quando a conheci não permitia que ninguém o tocasse. Subiria pelas paredes, dizia, numa mistura de timidez e desejo reprimido, quem sabe.
Seios minúsculos. Nádegas rijas.
Até hoje me arrependo de não ter ultrapassado tal limite com a língua. Na minha fantasia, o umbigo dela era uma espécie de antecipação do clitóris.

( ... )



( Fragmento de um conto erótico encontrado em poder de Because Forever, traficante de textos inéditos )

Thursday, December 07, 2006

Trocadilho

“Alguns seres humanos nascem para praticar o mal. Às vezes, até de modo inocente... E a sua ingenuidade chega a sugerir uma espécie de cinismo insuportável”.
Jezebel Junkle, uma bela jovem que estava aprontando horrores na nova safra de escritores brasileiros, falava de homens e mulheres dessa forma em suas famosas fábulas.
“Com apenas vinte e um anos, Jezebel e a sua narrativa pós-moderna chegaram para ficar e impor o seu estilo, ou a sua própria falta de estilo”, diziam os críticos mais avançadinhos. Mas, contrariando leitores e críticos entusiasmados, J. Junkle resolveu parar de escrever logo depois de publicar o seu segundo livro de contos... Ou melhor, fábulas.
Ela declarou aos poucos amigos do meio literário que com os seus dois best-sellers recebeu apenas uma mixaria, enquanto as editoras ganharam “fábulas”.
(...) Um trocadilho imperdoável para uma mente tão privilegiada (...) escreveu um jovem articulista do caderno de cultura de um jornal de tiragem nacional.

Tuesday, December 05, 2006

O suicida

“Tudo o que é sólido desmancha no ar”.
Depois de ficar com essa frase na cabeça por vários meses, Horacius H., suicida dialético praticante, resolveu pular do último andar do prédio onde morava.
Pulou mesmo.
No meio da sua viagem para a morte inevitável, Horacius sentiu um frio intenso e cortante. Talvez fosse a tal sensação de desmanchamento.
Uma espécie de transição do estado sólido para o gasoso, deve ter pensado ele, antes de se esborrachar na via pública.

Monday, December 04, 2006

Esoterismo

O novelista Sérgio Simulacros pagou uma nota preta à pitonisa Mercius de Capricórnio para que ela lhe mostrasse o caminho do sucesso literário.
A pitonisa acendeu um havana, meditou alguns segundos e chegou a uma conclusão insólita: Sérgio S. teria de mudar de nome. O novo nome deveria ter as iniciais em Z. A vidente, em transe perpétuo, disse ao novelista fracassado que ele também deveria abandonar a ficção urbana e experimentar o caminho da literatura esotérica, uma verdadeira mina de ouro.
Sérgio deixou a tenda mística disposto a mudar de nome pela décima vez. Tinha até uma idéia em Z: “Zé Zen”, curto, rápido e original. Difícil seria mudar de gênero. Logo ele, que nunca acreditou em duendes e gnomos, fadas e bruxas, ou magia de espécie alguma. Como poderia ter o estímulo necessário para escrever livros esotéricos?
Resolveu então ir novamente atrás de Mercius para pedir um conselho extra. Tarde demais, a pitonisa já havia desmontado sua tenda e partido sem deixar poeira cósmica para trás. Sérgio Simulacros teve a estranha sensação de que havia sido vítima de uma picaretagem mística.
O curioso é que, meses depois, apareceu nas livrarias um livro intitulado “As Aventuras da Cigana Cósmica de Capricórnio”, de um autor estreante chamado Zé Zen.
Sérgio S. jurou que era pura “coincidência”.

Friday, December 01, 2006

Sensualidade

“Ela possuia uma beleza hedionda...

Os olhos negros, enormes, uns cílios imensos e olheiras falsas de ressaca. Pescoço comprido, quilométrico mesmo, chamando a atenção de excitadas bocas alheias. Um perfume estranho, longínquo. Artificial.
Aliás, ela era toda artificial. Os braços finos. As pernas grossas, mais grossas do que poderiam imaginar os investigadores de corpos. Tudo nela era paradoxal. Belo, mas, incoerentemente, desumano.
O andar silencioso. Esqueleto maleável. O vestido lembrava um modelo europeu daqueles desfiles da Globosat. Algo nela lembrava a Naomi Campbell. Talvez a boca...Os quadris cindycrawfordianos.
Ela quase não falava. Apenas monossílabos. Vagos. Mas tudo nela era terrivelmente sensual. Um suplício de mulher perfeita.
E inatingível, diria o míope Querêncio Borba. “


( Depoimento do grafiteiro Magrelo Mouse, viajando no retrato falado de Helga Coolgate feito por Baltimore Batista, ladrão de personagens )