Brutalidade Jardim

Blog de literatura, prosas urbanas, poéticas visuais e literatices

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Location: João Monlevade / Brasília, Minas / Distrito Federal, Brazil

Nascido em João Monlevade, no Vale do Aço, Minas Gerais / Brasil. É jornalista. Reside em Brasília/DF desde 2007. Poeta independente abandonou a literatura impressa para mergulhar no abismo virtual. Tem trabalhos literários premiados no Brasil e muitos outros publicados em vários países, especialmente de arte postal. Seguir o meu twitter @ geraldomagela59 Born in João Monlevade, in the Steel Valley, Minas Gerais / Brazil. He is a journalist, living in Brasília / DF since 2007. Independent poet abandoned printed literature to immerse himself in the virtual abyss. It has literary works in Brazil and many others published in several countries, especially in publications of postall art.

Thursday, March 01, 2007

1922.


Um detetive, supostamente “londrino”, quem sabe um discípulo do lendário Sherlock Holmes, toma a decisão de investigar os crimes cometidos por Absalão a partir de pesquisas exaustivas em precários registros policiais até chegar aos arquivos de 1920 da polícia “americana”.
Uma tarefa árdua, já que os crimes aconteceram e continuavam a ocorrer nos lugares mais diversificados do país.
A cada pista, notícia ou mesmo boatos a respeito dos crimes, o detetive empreendia longas e sigilosas viagens.


1923.

Absalão mata um influente político de uma das grandes cidades do norte. O político, idoso e tetraplégico há mais de cinco anos, devido a um acidente doméstico, foi morto na própria cadeira de rodas. No peito, o orifício sangrento...
O assassino entrou e saiu da mansão sem ser notado, como sempre. Misteriosamente. Ou microscopicamente.
Desta vez, devido ao estado físico da vítima, Absalão dispensou o seu poder de provocar compaixão. Naturalmente, ele nem cobrou pelo serviço.
Fez de graça, só pelo prazer da novidade.


1925.

O detetive, supostamente “londrino”, descobre em antigos registros (rabiscos, seria mais técnico) um assassinato idêntico realizado em 1909 num “porto”. O uso de um longo punhal...
O investigador perspicaz já não tinha mais dúvidas: estava chegando às origens do criminoso, ou pelo menos aos seus primeiros crimes.
Apesar das suas fantásticas descobertas, o velho policial não costumava comentar os seus feitos com ninguém. Ele era o que poderia se denominar como uma pessoa culturalmente reservada. Acreditava plenamente no segredo guardado a sete chaves. Certos detalhes de uma investigação ele nem sequer anotava, temendo que os mesmos pudessem parar em mãos erradas.
Mas como a sorte andava de bem com o mortífero anão, o obstinado detetive só conseguiria chegar aos arquivos (manuscritos quase ilegíveis) de 1902 somente dali a uns dez anos.


1930.

Absalão vai para “Chicago”. Talvez a única cidade cujo nome ele conseguiu memorizar. Lá ele realiza dezenas de assassinatos, que são, obviamente, ligados à guerra dos gangsteres.
A arma: um punhal com cabo de ouro maciço. O seu documento de identidade se tornara um objeto nobre. Ele agora fazia parte da elite secreta do crime.


1935.

Continuando a sua longa viagem em busca do maníaco, o obsessivo investigador descobre finalmente os manuscritos policiais de 1902, onde é narrado pelo próprio executor - um menino de aproximadamente nove anos de idade - o assassinato de um velho, morto com uma punhalada certeira no coração.
O policial, já idoso, porém lúcido e em ótima forma física, chega finalmente ao reformatório onde Absalão passara cinco anos.
Enquanto isso, distante dali, Absalão nem sequer desconfiava de que alguém estava bisbilhotando a sua “origem”. Origem esta que o próprio Absalão desconhecia.


1936.

W.W. Phillips - era este o nome do obstinado policial comprovadamente “inglês” - finalmente chega ao orfanato onde Absalão havia sido entregue no final de 1891 pelas autoridades judiciárias.
W.W. Phillips anota tudo em seu caderninho de capa preta, anotações que contribuirão muito na montagem da história oficial de Absalão, O Judeu Anão.
Nos registros do orfanato ele descobriu a verdadeira origem do menino: “Casa dos Prazeres Madame Bovary”. Ele deve ter sorrido da maneira mais “inglesa” possível ao deparar com tal nome.
Imediatamente, o detetive farejador se deslocou até o mencionado bordel, tão infecto quanto o orfanato, diga-se de passagem. Lá ele descobriu apenas que a mãe do menino era uma meretriz judia morta após o parto. O nome da criança, dado pela dona do prostíbulo, coincidia com os nomes recolhidos no reformatório e no orfanato: Absalão...só.
Ele não possuia sobrenome... “Estranho”.
O velho policial, satisfeito com os resultados da sua investigação, resolve então retornar à “América”, levando o seu relatório para o chefe de polícia de “Chicago”. Pelos telegramas que recebera nos últimos meses, aquela cidade era a nova moradia do “assassino do punhal”.
(Apenas um dado anotado em seu caderninho de capa preta estava deixando o experiente policial intrigado. Alguém, no reformatório, havia afirmado com muita segurança que o delinqüente fugitivo era um “ANÃO”).


1937.

Absalão contava agora com quarenta e seis anos de idade, mas parecia ter menos da metade disto. A morte de outras pessoas pelas suas pequeninas e deformadas mãos parecia dotar-lhe de uma propriedade, milagrosa, de rejuvenescimento.
No início deste ano, Absalão teve um mau pressentimento acompanhado de um pesadelo no qual ele se achava acorrentado numa cela. No seu peito, um orifício. Um filete de sangue. À sua frente, um anão negro de olhinhos orientais o observava com crueldade. Um sorriso fino. No pesadelo, Absalão possuia o tamanho de uma “pessoa normal”.
Acordou no meio da noite, sobressaltado. Arrumou as suas pequenas coisas e colocou tudo numa valise. Inclusive o punhal de cabo de ouro. Depois disto, sumiu de “Chicago” como num passe de mágica. Misteriosamente, como sempre.
O seu desaparecimento coincidiu justamente com a chegada de W.W.Phillips à cidade, trazendo um relatório cheio de novidades para as autoridades policiais. Por medida de segurança, o documento foi mantido em sigilo total. Apenas o chefe de polícia, o prefeito e o promotor público tomaram conhecimento do seu conteúdo.
Cautelosamente, foram expedidos mandados de prisão a um anão de nome Absalão, judeu, branco, etc, etc, etc... Buscas infrutíferas. Ninguém jamais conseguiu localizar tal suspeito.
Porém, o mistério permanecia e os crimes continuavam sem solução. Absalão também continuava desaparecido e nenhum outro crime da mesma natureza foi registrado até a década de sessenta.

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