Brutalidade Jardim

Blog de literatura, prosas urbanas, poéticas visuais e literatices

Name:
Location: João Monlevade / Brasília, Minas / Distrito Federal, Brazil

Nascido em João Monlevade, no Vale do Aço, Minas Gerais / Brasil. É jornalista. Reside em Brasília/DF desde 2007. Poeta independente abandonou a literatura impressa para mergulhar no abismo virtual. Tem trabalhos literários premiados no Brasil e muitos outros publicados em vários países, especialmente de arte postal. Seguir o meu twitter @ geraldomagela59 Born in João Monlevade, in the Steel Valley, Minas Gerais / Brazil. He is a journalist, living in Brasília / DF since 2007. Independent poet abandoned printed literature to immerse himself in the virtual abyss. It has literary works in Brazil and many others published in several countries, especially in publications of postall art.

Monday, January 29, 2007

Os orifícios do ofício

1891.

Absalão nasce em um prostíbulo.
A sua mãe, uma meretriz judia, morre durante o trabalho de parto. O pai, obviamente, ninguém sabia quem era. O nome Absalão é dado pela dona do bordel, uma cristã sob suspeita. Nome que lhe veio de estalo no momento em que a mulher soltou o último suspiro e a criança ainda chorava. Uma homenagem judaíca, talvez.
Poucas semanas depois o bebê foi entregue às autoridades e conduzido a um orfanato não menos infecto que o bordel onde o infeliz nascera.


1896.

Com apenas cinco anos de idade e portador de uma degeneração física em retardava o seu crescimento, Absalão, O Minúsculo, apelido dado pelos órfãos mais velhos, foge do orfanato numa noite fria, levando consigo apenas alguns objetos essenciais à sua sobrevivência. Roubados, naturalmente. Entre os objetos, aquele que lhe provocava uma sensação de prazer inexplicável: um punhal. Dos muitos usados pela cozinheira do orfanato para matar porcos.
Absalão acariciava o punhal como uma criança acaricia o seu único brinquedo.


1899.

Passagem do século. Foguetório e festejos ao longe.
Absalão, O Judeu Minúsculo, apelido até certo ponto pejorativo que ganhara dos mendigos e marginais que habitavam o seu mundo sórdido, ainda continuava perdido no tempo. Não sabia onde nascera, nem como fora parar no orfanato odiado e muito menos como se tornara um criminoso. Alguém havia lhe dito que era um “judeu”, mas isto não lhe dizia nada.
A única coisa que ele sabia realmente era o óbvio:
O século estava por um fio. À sua frente, ou melhor, aos seus pés, estava um cadáver. A primeira vítima da lâmina afiada do seu punhal. Um velho, cujo semblante lembrava de longe o diretor do orfanato. Um velho “enorme”.
E ele, ali, minúsculo, com ódio nos olhos, observando o sangue que escorria do orifício.
Bem no coração, murmurava quase num grunhido, enquanto sentia uma inexplicável sensação de prazer.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home