10 Poemas Anoréxicos
2002 - Cidade de Ipatinga/MG
Geraldo Magela
Minúcias
lobos bebem
sangue quente
de cordeiro
as fábulas
nada dizem
sobre o paladar
dos devoradores.
Poemarinho
densos cardumes
mar abstrato
polvo hostil
idioma tentacular
água lâmina
peixe espada
enguias lânguidas
tubarões dissimulados
oceano
grafia.
Literatura
tradução de revólveres
revolvendo linguagens
fogo do inferno
epístolas, animais urbanos
a fala névoa
o poema nódoa
arranjo de fúrias
tribos urbanas
bachianas.
cidade espessa
escura
verbalizações armadas.
Alerta aos incautos
a cidade sobrevive
da sua própria
desconstrução
erguendo altares
sobre a geografia
movediça.
escribas pós - tudo
fazem a releitura
do texto urbano
na dissecação crua
das sílabas / períodos
néon & sons
absolutos.
cotidianos rebuscados
traços. rascunhos.
verbos. enigmas.
a cidade se lê
à margem
do seu texto
original.
( Prêmio Especial do Júri de Melhor Poema – Ipatinga – 2002 )
faz escala
no paraíso
santos & demônios
apaziguados
trocam mercadorias
drogas chiques
escravas brancas
microchips.
Feira do futuro
esfinges modernas
lançam enigmas
em compact disc
édipos perplexos
digitando códigos
infrutíferos
são atirados
nos precipícios
da realidade virtual.
Referência para leitura
vaqueiros
no pasto
seguem o mapa
dos excrementos
no infinito amarelo
boitempo.
Limite
a literatura
não basta
ereções
dolorosas
masturbação
escrita
a literatura
não é tudo
o seu púbis
por exemplo
é xilogravura.
Final dos tempos
eram seis da tarde
quando o sino tocou
e um sabiá longe
repetiu
piedade senhor
chamando em vão
uma chuva
ácida.
Restos
levo
para o túmulo
o cúmulo
de um cadáver
figuras de linguagem
ironias
&
algumas arrobas
de lirismo.