Brutalidade Jardim

Blog de literatura, prosas urbanas, poéticas visuais e literatices

Name:
Location: João Monlevade / Brasília, Minas / Distrito Federal, Brazil

Nascido em João Monlevade, no Vale do Aço, Minas Gerais / Brasil. É jornalista. Reside em Brasília/DF desde 2007. Poeta independente abandonou a literatura impressa para mergulhar no abismo virtual. Tem trabalhos literários premiados no Brasil e muitos outros publicados em vários países, especialmente de arte postal. Seguir o meu twitter @ geraldomagela59 Born in João Monlevade, in the Steel Valley, Minas Gerais / Brazil. He is a journalist, living in Brasília / DF since 2007. Independent poet abandoned printed literature to immerse himself in the virtual abyss. It has literary works in Brazil and many others published in several countries, especially in publications of postall art.

Tuesday, October 31, 2006

Pseudônimo à procura de autor

Birdes Fontaine, um pseudônimo à procura de autor. Vocação terrível. Mas ele vivera tempos de glória nos concursos literários municipais e regionais, assinando contos escritos sob a influência do realismo fantástico.
Depois disso, somente decepções, fracassos, desistências. A prosa tornara-se um exercício impossível para o aprendiz de Murilo Rubião, que preferiu optar pela síntese poética.
O rompimento não fora nada fácil. O autor, agoniado, havia destruído manuscritos originais e anotações, todas contendo a presença metafísica do pseudônimo.
Birdes então o abandonou. Virou free lancer. Segundo comentários levianos no meio literário, ele anda atualmente de parceria com uma estudante de letras, gordinha, que escreve sob a sagrada influência de Garcia Marquez.
Amor à primeira frase.

Monday, October 30, 2006

Ficção barata

Mandrake Zake, poeta pós-alguma coisa, descobriu que a poesia, assim como todo tipo de literatura, a exemplo da música, está esgotada. O que existe é um mero exercício de repetição, devidamente legalizado e de domínio público.
Angustiado, M. Zake parou de escrever (repetir). Mergulhado na densa solidão do seu quarto e na boa companhia de João Cabral, Bandeira e Leminski, ele chegou a uma conclusão drástica: o seu cérebro estava intoxicado de versos plagiados. E a sua alma também.
Numa demonstração de que os poetas continuam nada originais, ele cortou as veias poéticas e ficou na banheira aguardando a morte.
Meses depois teve gente jurando que viu Mandrake Zake tentando vender, por antecipação, exemplares do seu último livreto de poemas.Além disto, segundo os mais íntimos, ele não possuia banheira em casa.

O suicídio teria sido pura “literatura”?

Friday, October 27, 2006

Adjetivos

Dizia o ex-contista Antônio Scliar: “Parei de escrever por causa dos adjetivos. Sou um viciado em adjetivos. Exagero neles na hora de botar a estória no papel. É algo terrível.
Verdade. Observem o trecho abaixo que pertence a um conto policial, onde esse meu horripilante vício está muito bem caracterizado.
(...) O pobre Moura, gordo e patético, sequer imaginava que a sua amada mulher, ossuda e bela, lhe traía, descaradamente, com o delinqüente Tom Cat, gatuno perigoso que habitava os escuros e malcheirosos túneis da secreta galeria de esgotos do submundo torpe daquela cidade espessa (...) “.

Thursday, October 26, 2006

Quase

Aldon Almeida,escritor de uma única novela ficou famoso ao escrever e publicar a mesma obra de ficção por doze vezes. Publicou, em vida, doze livros diferentes, porém quase idênticos.
Esse “quase” é o fator determinante na descoberta do talento literário de Aldon. O enredo, a narrativa, o estilo e os personagens de sua obra são sempre os mesmos. Mas, como todo grande mestre na arte da repetição, ele fez uso de alguns truques para atrair e aguçar a curiosidade dos leitores.
Vejamos: a narrativa tem, obviamente, doze títulos diferentes e as frases finais do capítulo XV e do epílogo da obra jamais se repetem. É aí que reside a sutileza do autor. Contudo, é bom ressaltar que para o leitor compreender totalmente a trama ele deverá adquirir todos os volumes, seguindo a cronologia correta das publicações.
É aí que reside a causa do enriquecimento do escritor. Aldon Almeida faleceu milionário, deixando inacabado o décimo terceiro livro da famosa série.

Tuesday, October 24, 2006

Literatices

Beraldo Bezerra, escritor/personagem beatnik, nordestino, quarenta anos, um tanto frustrado, porém bem humorado, desapareceu de um romance experimental sem deixar pistas do seu paradeiro. Abandonou a estória bem no meio da trama.
Na realidade, a sua presença não era assim tão necessária, já que num romance vanguardeiro os personagens pouco importam. Aliás, nem mesmo o enredo importa muito.
Mas o sumiço repentino de Bezerra deixou o escritor angustiado, pois não era a primeira vez que uma das suas insólitas criaturas o deixava na mão.
Tempos depois, para a surpresa e ódio do seu criador, Beraldo Bezerra reapareceria num miniconto fantástico de um escritor bissexto de Minas Gerais.

Monday, October 23, 2006

O lirismo

“O lirismo não leva ninguém a nada”, escrevera em sua biografia póstuma o dublê de ficcionista Birdes Fontaine. E foi pensando assim que Because Forever, mulato desinibido, sem maiores adjetivos, descarregou o seu taurus 38 cano curto no impassível manequim na vitrine de uma das muitas lojas do shopping center.
“Terapia Quentin Tarantino”, conforme apelidou o fato o articulista de um jornal local.

Tuesday, October 10, 2006

A linguagem clara de Bandeira *

Geraldo Magela


I - Indagações sobre sombras


que homens são esses
de olhares
monossilábicos
feito sólidos
totens malditos
cobertos de silêncio
e cinzas?


que homens são esses
enigmáticos
como sombras de um
teatro chinês
sem enredo ou história
somente a tragédia
de suas faces?


que homens são esses
adestrados
prontos a transpassar
arcos de fogo
que dominam a sala
de concreto frio
geométrico?


que homens são esses
tigres
em seu eterno
monólogo
de remorsos
murmurando um rosário
de lentas devorações?


que homens são esses
circunspectos
imóveis ao redor
de uma mesa
coberta pela bandeira
desonrada
por manchas abstratas?


II - Memórias


paredes
de cal
e rancor

janelas
trancando
a luz

portais
sustentando
angústias

dos restos
o resumo
da obra:

melancolia
de cupins
impunes.


III - Anorexias


crianças
esqueléticas
sonham


big-mac
com fritas
coca-cola


miséria social
é o lado ruim
da fome


pensa a
jovem
modelo.


IV - Pequenos registros em hortas e jardins urbanos


vidraças opacas
sintonizam
besouros

lagartixas graves
sentenciam
vôos tediosos

roseiras rubras
sugerem
saúvas negras

tática de teias
aranhas
adjetivas

melancolia
de lesmas
nas begônias

soníferas lagartas
sonham
espessuras

insetos verbais
tamanha
gramática

taturanas
substantivas
natureza tenaz.


V - Confissão


nunca desejei
ossos
em meus
versos

nunca enxertei
épicos
em meus
textos

sempre busquei
a linguagem
clara

como nos
escritos de
Bandeira

embora nunca
consegui
tê-la.


* Conjunto de poemas que recebeu menção honrosa no 4º Prêmio Nacional de Poesia - Cidade de Ipatinga 2006

Thursday, October 05, 2006

Cá do mundo

Wir Caetano - 2006


keats era inglês
yeats irlandês
de qual europa vocês?

valéry era francês
dylan thomas galês
de qual europa vocês?

p.n.van eyck holandês
sá-carneiro português
de qual europa vocês?

bashô era japonês
li shangyin era chinês
de qual planeta vocês?

Wednesday, October 04, 2006

Historinha de ninar

Na primeira noite em que o demônio entrou na igreja, acontecimentos terríveis foram presenciados pelo padre Antão, que estava no interior do templo barroco.
Todos os santos se partiram em centenas de fragmentos. O altar-mor se desfez, devorado por milhões de cupins diabólicos. Os bancos de madeira levitaram. A nave principal foi cortada ferozmente por rachaduras imensas.
Um fogo inesperado lambeu o templo de ponta a ponta, transformando tudo em cinzas, inclusive o velho padre.
Pela manhã, os sinos da matriz acordaram os fiéis, como se nada tivesse acontecido. No imenso portal da porta de entrada da igreja, lá estava o padre Antão, observando a cidadezinha com um olhar estranho.
Não era o padre. Na verdade, era o demônio. Nas próximas noites, ele retornaria à igreja por três séculos seguidos.

Tuesday, October 03, 2006

Novo blog de literatura

Os poetas alternativos estão de volta.
Mais um blog literário na rede:
O escritor Lucas Palhares criou o http:/casadegravetos.blogspot.com
Confiram!

poema piada antigo

esprema
teu
zóide

Geraldo Magela / 1982

Monday, October 02, 2006

O sinal

O assassino virtual invadiu mais um site de relacionamento na internet. Deixou a sua marca sanguinolenta no rosto de uma menininha linda, na flor dos 15 anos. A família da adolescente desesperou-se com o seu desaparecimento súbito. Colocaram a foto dela em todos os grandes jornais e a mãe foi parar os noticiários da televisão. O assassino, como sempre, não deixou vestígios. Apenas enviou pelo correio uma calcinha com o desenho bordado da minie, namorada do mickey. Era o sinal.