A linguagem clara de Bandeira *
I - Indagações sobre sombras
que homens são esses
de olhares
monossilábicos
feito sólidos
totens malditos
cobertos de silêncio
e cinzas?
que homens são esses
enigmáticos
como sombras de um
teatro chinês
sem enredo ou história
somente a tragédia
de suas faces?
que homens são esses
adestrados
prontos a transpassar
arcos de fogo
que dominam a sala
de concreto frio
geométrico?
que homens são esses
tigres
em seu eterno
monólogo
de remorsos
murmurando um rosário
de lentas devorações?
que homens são esses
circunspectos
imóveis ao redor
de uma mesa
coberta pela bandeira
desonrada
por manchas abstratas?
II - Memórias
paredes
de cal
e rancor
janelas
trancando
a luz
portais
sustentando
angústias
dos restos
o resumo
da obra:
melancolia
de cupins
impunes.
III - Anorexias
crianças
esqueléticas
sonham
big-mac
com fritas
coca-cola
miséria social
é o lado ruim
da fome
pensa a
jovem
modelo.
IV - Pequenos registros em hortas e jardins urbanos
vidraças opacas
sintonizam
besouros
lagartixas graves
sentenciam
vôos tediosos
roseiras rubras
sugerem
saúvas negras
tática de teias
aranhas
adjetivas
melancolia
de lesmas
nas begônias
soníferas lagartas
sonham
espessuras
insetos verbais
tamanha
gramática
taturanas
substantivas
natureza tenaz.
V - Confissão
nunca desejei
ossos
em meus
versos
nunca enxertei
épicos
em meus
textos
sempre busquei
a linguagem
clara
como nos
escritos de
Bandeira
embora nunca
consegui
tê-la.
* Conjunto de poemas que recebeu menção honrosa no 4º Prêmio Nacional de Poesia - Cidade de Ipatinga 2006
3 Comments:
Porra cara! Vou começar a imprimir seus poemas para tê-los guardados em casa. E vc ainda vai ter que me dar uma dedicatória.
Magelinha, parabéns pelo prêmio! abraço
Divagando por aí vim parar no Brutalidade... Belo trabalho!
Gosto da sua Poesia... tem algo mais; responsabilidade com a palavra. Transpiração!
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