Brutalidade Jardim

Blog de literatura, prosas urbanas, poéticas visuais e literatices

Name:
Location: João Monlevade / Brasília, Minas / Distrito Federal, Brazil

Nascido em João Monlevade, no Vale do Aço, Minas Gerais / Brasil. É jornalista. Reside em Brasília/DF desde 2007. Poeta independente abandonou a literatura impressa para mergulhar no abismo virtual. Tem trabalhos literários premiados no Brasil e muitos outros publicados em vários países, especialmente de arte postal. Seguir o meu twitter @ geraldomagela59 Born in João Monlevade, in the Steel Valley, Minas Gerais / Brazil. He is a journalist, living in Brasília / DF since 2007. Independent poet abandoned printed literature to immerse himself in the virtual abyss. It has literary works in Brazil and many others published in several countries, especially in publications of postall art.

Wednesday, September 27, 2006

Mais continhos

Tiro livre

Eu andava meio perdido pelas duas avenidas do centro da cidade. Poucos rostos conhecidos. Uma angústia de dar medo tomava conta do falso cenário. Para quem não conhecesse os mistérios do nosso cotidiano, a cidade poderia até aparentar certa calma. Não fosse o franco-atirador, à espreita, em cima do telhado alheio.

Cabeças


A redação do jornal já estava em pleno e estressante processo de dead-line (mania que os brasileiros têm de utilizar termos em inglês), quando chegou a notícia. A polícia havia descoberto um corpo sem cabeça no rio. Como várias pessoas andaram perdendo as cabeças nos últimos dias, seria quase impossível descobrir quem seria o infeliz, comentou um repórter distraído.

Friday, September 22, 2006

Depois do almoço

Ela estava completamente nua e encostou com força no meu corpo, abraçando-me e beijando a minha boca. Apertei as suas nádegas redondas com as mãos bem firmes. Ela mordeu o meu lábio inferior com certa força, despedindo-se. Fui embora, com a boca ardendo e um desejo enrustido em minha memória ruim.

Thursday, September 21, 2006

Memórias

A casa velha caiada de rancor. O azul desbotado das janelas e dos portais ainda era mais forte do que o azulão do céu naquela tarde de mormaço. A mulher, solitária, estava observando a sombra nervosa de um homem alto e magro, montado a cavalo, que dominava a enormidade do piso de tábua da sala. Ele trazia um revólver na cintura e algumas histórias para contar. A maioria delas era de puro cinismo.

Thursday, September 14, 2006

mínguas

ínguas
humanas
línguas
urbanas

Geraldo Magela / 2006

Dia cinza

Uma espécie de cisma me acompanha desde os tempos de menino. Os dias cinzentos são um sinal de que alguma coisa desagradável poderá acontecer. Geralmente, a “coisa desagradável” pode ser traduzida como a morte de alguém, conhecido ou não. Parente ou inimigo, não interessa, a verdade é que dificilmente erro o meu palpite insólito. Sempre morre mesmo uma pessoa em dias cinzentos, chuvosos. Com aquela tênue e perigosa névoa dominando o cenário. Hoje, por exemplo, amanheceu meio cinza, com uma ameaça de chuva ao longe. Mau sinal. Tais pressentimentos não me agradam. Ao contrário, me deixam angustiado. Daqui a pouco o telefone vai tocar, ou algum conhecido poderá me parar na rua para comunicar a morte de uma pessoa qualquer. Talvez até, infelizmente, uma pessoa querida. A coisa mais macabra nessa estória é que sempre uma pessoa qualquer faz questão de me avisar sobre as mortes. Mortes naturais ou mesmo brutais, acidentes, assassinatos, fatalidades ou coisas do tipo. É terrível. E pior ainda vai ser o dia da minha própria morte. Imagino, como não poderia deixar de ser, um dia cinzento. E ninguém vai poder me avisar.

Monday, September 04, 2006

Palavras

Eu sempre fui muito esquisito. Esquisito talvez não seja uma boa palavra. A melhor palavra seria talvez “estranho”. É, eu sempre fui uma pessoa estranha. Gostaria de saber se existe algum grupo de auto-ajuda para estranhos, já que existem tantos grupos para viciados, alcoólatras, neuróticos, depressivos e maníacos de todo tipo. Não, acho que ainda não criaram nenhum grupo destinado aos estranhos. Pois deveriam. Conheço muitas pessoas estranhas. Cada uma com um tipo particular de esquisitice. Não, esquisitice não é uma boa palavra. Melhor seria “excentricidade”. É mais sofisticado. Geralmente, as pessoas que achamos estranhas têm um alto grau de sofisticação. Nem que seja pura farsa. Sim, porque os estranhos são, em sua maioria, seres bastante teatrais. Eu, por exemplo, me considero um ser teatral. Aliás, eu não sou uma pessoa no sentido restrito da palavra. Eu sou um personagem. É por isso que você deve estar estranhando a minha presença na sala, vestido de camisolão branco e encarnando o “doente” de Moliére.